30 dezembro 2013

Plano de Leituras para 2014 (actualizado)

 
Fotos da Dulce

Embora o Plano fique em permanência aqui ao lado na faixa da esquerda, publica-se mais uma vez, com a actualização devida (Fevereiro e Março).
Contamos com todos os companheiros leitores, de forma a registarmos grandes audiências tal e qual como na última sessão do ano.

Bom Ano e Boas Leituras!

1º trimestre – Literatura de expressão Portuguesa
31 Janeiro – Bastardos do Sol, de Urbano Tavares Rodrigues
28 Fevereiro – Terra Sonâmbula, de Mia Couto
28 Março - Oríon, de Mário Cláudio 
2º trimestre – O tempo de D. João V, leituras prodigiosas
17 Abril – Memorial do Convento, de José Saramago
30 Maio – O Judeu, de Bernardo Santareno
27 Junho – A Redenção das Águas, de Carlos Querido
3º trimestre – Literatura de expressão Francesa
25 Julho – Como a Água que Corre, de Marguerite Yourcenar
29 Agosto – O Tartufo, de Molière
26 Setembro – Germinal, de Émile Zola
4º trimestre – Literatura do mundo
31 Outubro – A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera
28 Novembro – O Elefante Evapora-se, de Haruki Murakami
19 Dezembro – O Amor nos Tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Marquez

20 dezembro 2013

AINDA E SEMPRE


Santo António e Santa Catarina, Josefa de Óbidos, sec. XVII. Escola Portuguesa. Mosteiro de S. Vicente de Fora

Ainda o Santo António, desta vez acompanhado de Santa Catarina, unidos os Santos fora do tempo que a cada um coube de vida terrena, por Aquele que é de todos os tempos. Mensagem que se reforça cada Natal, aqui pela mão de Josefa de Óbidos, síntese maior de poesia, pintura e humanidade.

Esta foi a minha escolha, para todos os que aqui vierem, a propósito de Leituras e Passeios; de  Lisboa, de S. Vicente de Fora e dos símbolos da nossa identidade cultural. Escolha esta para simplesmente desejar a todos Boas Festas. E um novo ano cheio de boas experiências.

17 dezembro 2013

ALFAMA, S. VICENTE DE FORA E AINDA...






De entre os tesouros e surpresas que nos reserva Alfama, para além de tudo o que fomos descobrindo no nosso percurso da Cerca Moura, aí está S. Vicente de Fora, Mosteiro-Museu e Igreja, que pessoalmente resolvi descobrir melhor ao som do órgão, no último sábado. Aqui deixo o testemunho de algumas imagens, incluindo a da lápide dedicada ao famoso "Henrique da Palma", cruzado participante da conquista de Lisboa, também referido por Saramago. Sem adiantar mais em relação à história, que vai perdendo o interesse conforme se aproxima vertiginosamente outro tema, e este de retornados, direi apenas que é em vão que se busca em S. Vicente a capela de Sto António com a figura típica do santo padroeiro de Lisboa com o Menino ao colo. A imagem que se patenteia é a de um Sto António de farpela branca e preta, como cónego regrante de Sto Agostinho, que o foi durante 10 anos, antes de optar pelos franciscanos, de espiritualidade mais a seu contento... são muitas as histórias, ainda a desvendar, mas que ficam para outras vezes. Por enquanto, num final de tarde de fabuloso sábado, assistimos gostosamente ao Circo de Luz no Terreiro do Paço, antes do prosaico regresso a casa. Fica a Magia.

15 dezembro 2013

RIQUITA

Riquita (Maria Celmira Bauleth), misse Angola e Portugal 1971
 
Deixei lá o meu poster da Riquita, tanto cuidado a dobrá-lo e não o trouxe, se o tio Zé não se tivesse posto aos gritos nunca me teria esquecido do poster da Riquita. Tinha um autógrafo e tudo.
 
O Retorno, p. 104.


14 dezembro 2013

RENDA DE PEDRA

PORTAL DA IGREJA DA CONCEIÇÃO VELHA, esta noite. Fez parte do nosso roteiro do passado domingo. Fui documentar-me: combinação do estilo manuelino com motivos decorativos tardo-góticos e renascentistas. No tímpano que tanta curiosidade despertou, apresenta-se a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia, cobrindo com o seu manto, segurado por dois anjos, diversas personalidades. Entre elas, o rei D. Manuel I, a rainha D. Leonor, o papa Alexandre VI e o bispo de Lisboa.

13 dezembro 2013

A ADIANTAR SERVIÇO

O Retorno sobre Os Meus Sentimentos, o primeiro livro que li de DULCE MARIA CARDOSO. Já vou adiantado no da nossa sessão, "Então a metrópole afinal é isto", o comité dos trabalhadores do hotel, os plenários. A ver vamos.
 

09 dezembro 2013

HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA...




...Foi assim que, na senda de Raimundo Silva e do seu relato da Lisboa do Cerco na Lisboa de hoje, de porta em porta de muralha, de vestígio em vestígio de cerca, torre, postigo, adarve; por arcos, escadas, pátios, becos, ruas e ruelas, acabámos por percorrer gostosamente alguns quilómetros da (des)conhecida Alfama, cujo nome percebemos ter origem na localização de termas e banhos (hammam) da mourisca Al Usbuna... Mais uma surtida notável da comunidade, a propósito de um livro, de um autor, de muitas ideias, sobre ficção, sobre literatura; sobre História, entretecida esta com outras e variadas estórias. E muita amizade!

03 dezembro 2013

"O Retorno" de Dulce Maria Cardoso, 27 Dezembro às 21h00


Terminamos o ano com "O Retorno", onde a Dulce Maria Cardoso nos leva de volta a 1975 e ao drama vivido pelas gentes retornadas das ex-colónias portuguesas. O desenraizamento, o reaprender a viver, o começar do zero, a desconfiança, os ódios, as emoções violentas, a coragem, a esperança e também o amor. Uma amálgama de sentimentos a redescobrir neste romance.


27 novembro 2013

WEIMAR, CÉU E INFERNO, OUTROS CERCOS


Casa Museu de J.W. von Goethe

A entrada principal do Campo de Buchenwald

O lettering, legível depois de entrar, significa: estás aqui porque é justo que estejas.

A cidade não se cansa dos seus heróis. Convivem Goethe e Schiller, claro, amigos para a vida (e para a eternidade)


Enquanto prosseguia o desenrolar da História do Cerco de Lisboa, na latitude 38º 43' 0" N e longitude -9º 7' 59", em épocas sobrepostas pela ficção, noutras coordenadas geográficas, a 50° 59' 0" N e 11° 19' 0" E, em Weimar, deparou-se-me um outro Cerco, o das contradições inescapáveis desta nossa "raça" humana, a um tempo divina e perversa, espelhando, despudoradamente, céu e  inferno. 
O Céu da Cultura universal (se assim nos podemos exprimir): Goethe, a arte, a literatura, a inteligência; Schiller, a literatura e a inventiva; Bach, Lizt, a música na sua expressão mais paradigmática... A Bauhaus, com Van de Velde e Gropius e o expoente máximo das vanguardas do século XX na Arte e seu ensino.
O Inferno do 1º campo de concentração nazi, a apenas 8 km da cidade de Weimar, anterior à II Guerra, palco de atrocidades que ferem profundamente o mais elementar sentido de Humanidade. Sobre tudo aquilo, o silêncio do nevoeiro, do frio e da dor da morte e injustiça nunca superada. Por ninguém.

26 novembro 2013

DIÁRIO DA LEITURA DO CERCO - 26/11/2013

Volto ao terreno para fotografar o Arco de Jesus e a pedra de armas dos Mascarenhas no cunhal  dum prédio adjacente (página 73).

Depois subo à Rua do Milagre de Santo António, ao seu extremo poente, local de confluência do Largo dos Lóios e das Ruas da Saudade e Bartolomeu de Gusmão. Aí está o edifício dos painéis de azulejos abomináveis (página 267). Três milagres, afinal, e muitos mais terá feito o taumaturgo de Pádua e de Lisboa.
Detenho-me no painel que narra o milagre da mula que se ajoelhou perante a Hóstia Sagrada, prova infalível de estar Cristo no Sacramento e não como diziam os perversos hereges que Santo António se encarregou de contrariar (página 268 e seguintes).
Sobre o progresso dos amores de Raimundo Benvindo e Maria Sara, coisa digna de se apreciar, é que não digo nada. Reservo-me para a sessão.
Amanhã arranco da página 277 – onde se diz “Geralmente , considera-se demonstração de inultrapassável bravura dar o próprio condenado à morte a ordem de fogo ao pelotão que o vai fuzilar, (…) – e é mesmo para terminar a leitura.

25 novembro 2013

DIÁRIO DA LEITURA DO CERCO - 25/11/2013

Cheguei à página 246, fim de mais um capítulo, com a fala de Raimundo Benvindo: “Não vim de tão longe para morrer diante dos muros de Lisboa”. Uma outra forma de dizer, não escapei do naufrágio para vir morrer na praia.
Depois da guerra suja de Santarém, contada a páginas 186 e 187 pelo soldado Mogueime, Moqueime ou Mogeima, ao lado da guerra que se prepara em Lisboa entre cristãos e mouros, corre uma história de avanços e recuos, de hesitações e ciúmes mal definidos, de ousadias e atitudes prudenciais.  
Ela: “Não se dão rosas hoje para dar um deserto amanhã.” Ele: “Não haverá deserto.” Ela: “É só uma promessa, não o sabemos.”
O íntimo rumor que abre as rosas, página 170, autocitação de um verso de Provavelmente Alegria:

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
Nem o canto das aves milagrosas.
Mas lá, entre as estrelas, onde somos
Um astro recriado, é que se ouve
O íntimo rumor que abre as rosas.

 
Faltam 100 páginas. Talvez acabe amanhã.


MILAGRE DE SANTO ANTÓNIO

Na rua do dito milagre, por cima do bistro a bilha. O que a gente descobre quando se põe a ler Saramago.

24 novembro 2013

DIÁRIO DA LEITURA DO CERCO - 24/11/2013

Comecei hoje, bem cedo, no capítulo em que Afonso I de Portugal, devidamente assessorado por D. João Peculiar e D. Pedro Pitões – arcebispo de Braga o primeiro, bispo do Porto o segundo –, produz aquele extraordinário discurso em que é lembrado o milagre de Ourique, obrado directamente por Nosso Senhor. A coisa foi mal recebida pelos cruzados: se têm Nosso Senhor como general e comandante, fiquem-se com Ele que nós não somos aqui precisos.
Li da página 137 à 173, aquele passo, talvez inesperado, em que Raimundo Benvindo convida Maria Sara a subir a sua casa. 
O domingo de sol não deu para mais, mas fiz o meu  trabalho de campo: Rua do Milagre de Santo António, Escadinhas de S. Crispim, Rua Bartolomeu de Gusmão, Arco da Conceição, Portas do Mar, Arco de Jesus, Calçada do Correio Velho e Rua da Padaria.
Da Leitaria A Graciosa, nenhum traço.

DIÁRIO DA LEITURA DO CERCO - 23/11/1013

Foi em sonho que Raimundo Benvindo viu distintamente as torres das Amoreiras, mas estava bem acordado quando conheceu a doutora Maria Sara com a sua blusa de tom branco-manhã.
Dias agitados na Rua do Milagre de Santo António.
 
Leonard Cohen passou por lá nas asas de um videoclip.
 
 
O restaurador capilar Fonte de Juventa foi despejado no lava-loiça. Osberno e demais fontes históricas inquietam o nosso homem.
Página 135, onde se sabe que Raimundo Benvindo encontrou a razão do Não para rescrever a História do Cerco de Lisboa.
Neste ponto me deixei ficar.
Aproveito para apresentar uma idealização da doutora Maria Sara.
 
 

22 novembro 2013

DIÁRIO DA LEITURA DO CERCO - 22/11/2013

O sinal é assim como uma cobra que não chega a morder a cauda, diz o historiador, devem ter percebido. Tem parecenças com o Q, diz Raimundo Benvindo, afilhado da tal madrinha, ou será que é o historiador? Deleatur quer dizer destrua-se.
Aqui comecei, hoje, como quem não quer a coisa, e fui até à página 75, onde se nos depara aquela visão das torres das Amoreiras. Perante a taveirada, achei por bem fechar o livro. Amanhã há mais.
 

UM AUTÓGRAFO DE SARAMAGO

Com a assinatura do nobel: História do Cerco de Lisboa
 
Escrevi no Facebook do grupo de amigos da “Comunidade de leitores de S. Domingos de Rana” que parecia sobranceria minha dizer "já não me lembrava desta página" de História do Cerco de Lisboa, de José Saramago, assinada pelo próprio, então já premiado nobel da literatura. Vou redimir-me confidenciando aqui: quando o nosso querido Saramago não era assim muito, muito, muito famoso - ou quando ainda tinha outros vigores - fui ouvi-lo e vê-lo (publicamente, claro está!), algumas vezes, lá na banda sul onde eu morava. Lembro-me de um ou duas vezes em que, tal era a pilha de livros de edições diferentes que várias pessoas transportavam consigo que, também a mim me aconteceu, por vergonha, por deferência, nem solicitava que  Saramago os autografasse a todos. Certa vez "decretou" que passaria a assinar só um livro por pessoa pois a fila era enorme, enorme…, de várias horas já! Por isso é que eu não me lembrava, DE FACTO, desta “página de rosto”, que tão orgulhosamente partilho aqui de um autor valeroso da língua portuguesa.
Não se esqueçam de aparecer no dia da História do Cerco de Lisboa , na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana, às 21h, a 29 de novembro, com entrada livre.
 
Dulce Teixeira

18 novembro 2013

LER DOM QUIXOTE

HONORÉ DAUMIER, o Michelangelo da Caricatura (1808-1879), Dom Quixote Lendo
 
Hoje, no Teatro Municipal São Luiz, Jardim de Inverno, às 21 horas.


16 novembro 2013

SARAMAGO, 91 anos

16 de Novembro (1994)
 
"No Arts Council, em Londres, apresentaram-me de surpresa um grande bolo branco com palavras de chocolate e erros de ortografia: «Parabens, señor Saramago.» O «parabéns a você» (que sempre detestei) é cantado por doze vozes e em três versões: a luso-brasileira, a moçambicana e a inglesa... (...) Quando apaguei a única vela que havia no bolo, descobri que afinal eram setenta e duas. Tantas. (...)"

Cadernos de Lanzarote - Diário II

13 novembro 2013

O CERCO DE LISBOA (1147)

Ilustração de ROQUE GAMEIRO (1864-1935)

" A RONDA DA NOITE "

REMBRANDT, 1642, óleo sobre tela, Rijksmuseum, Amsterdão
 
Uma ideia aplicável à leitura de um livro é a de ser uma espécie de “work in progress”, não só naqueles momentos em que o leitor se mete pela primeira vez na floresta do texto, ganhando capítulo a capítulo o conhecimento da obra, como ao longo da vida, sempre que a ela volta e com novos olhos a lê e compreende.
Estou a ler A Ronda da Noite, de Agustina Bessa-Luís.[1] Ainda não passei de metade do livro, logo, tudo o que possa dizer será sempre inacabado e provisório, fruto de uma leitura em curso. Um aspecto, porém, desde já arrisco, seguro de não cair em grande engano: sendo esta narrativa um diálogo entre dois textos – o pictórico de Rembrandt e o literário de Agustina –, aplica-se a um e outro a mesma metodologia de abordagem e interpretação.
Ninguém “lê” a obra de Rembrandt partindo da esquerda para a direita, começando naquele militar que levanta a grossa lâmina da sua arma até ao tambor mutilado[2] do extremo oposto.  O facto é que o “leitor” da narrativa de Rembrandt começará provavelmente por se deter nas duas figuras centrais – o “nocturno” capitão Banning Cocq e o luminoso tenente Willem van Ruytenburch; reparará de seguida na figura da menina (Saskia?), igualmente luminosa, atravessando o espaço da tela; andará depois – e desculpem-me se estou a simplificar ou esquematizar as coisas –, pelos militares e demais figuras do cortejo, voltará a Saskia, ao capitão e ao seu tenente, interrogar-se-á sobre o destroço do pobre tambor, tentará uma leitura de conjunto na procura dos elos da narrativa.
No romance de Agustina não nos é dado procedimento diferente. A história de Maria Rosa e de Martinho (a saga dos Labasco?) não é servida de trás para a frente, da esquerda para a direita ou segundo outro critério de ordenação susceptível de tranquilizar o leitor, dizendo-lhe: “Segue-me e compreenderás”. É o leitor que terá de fazer o seu próprio caminho, compreendendo o que se diz, o que se não diz e o que apenas se sugere. (Vejo haver muitos “ques” na última frase, desculpe-se-me o desaforo estilístico pois Agustina também os usa sem parcimónia em certo passos da sua escrita).
Trata-se então de o leitor fazer o seu próprio caminho. O caminho faz-se caminhando – frase talvez de Pessoa, de António Machado, ou de alguém por eles. Não interessa. Ler e ler bem é um caminho, neste caso o único, para interpretar. De outra forma, arriscamo-nos, como na história desta obra monumental de Rembrandt, a chamar “ronda da noite” a um “cortejo diurno” cheio de luz e cor.[3]



[1] Leitura para a Comunidade de Leitores da Biblioteca Municipal de Cascais, Casa da Horta da Quinta de Santa Clara, dia 21 de Novembro, às 18h.30m.
[2] Obrou-se esta mutilação, como nos informa a própria Agustina, porque a tela, de grandes dimensões, não cabia na parede da Câmara de Amsterdão onde a queriam expor.
[3] No século XIX, a tela recebeu o nome de “A Ronda da Noite” por uma equívoca interpretação, dado encontrar-se obscurecida pela oxidação do verniz e pela sujidade.