17 fevereiro 2017

"O VENDEDOR DE PASSADOS", de José Eduardo Agualusa


--- Transcrevo a introdução de um trabalho académico feito por este escrevente no ano lectivo de 2007/2008, ano curricular do mestrado, seminário de Literaturas de Língua Portuguesa:

INTRODUÇÃO

Ao pretendermos estudar o romance O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa, não podemos deixar de ter em consideração a visão dicotómica de Pires Laranjeira em relação à actualidade literária de Angola:

«No pós-independência, há na literatura um discurso ideológico do poder e outro do contra-poder. O discurso do poder procura legitimá-lo pelo poder do enraizamento e da nacionalidade. O discurso do contra-poder não discute a nacionalidade, mas pode discutir o modo como ela se legitimou, recuando às origens. Ou pode simplesmente silenciá~la, enquanto tema, ou secundarizá-la.»

José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo (Nova Lisboa na toponímia colonial) em 1960 e é considerado um escritor da diáspora. De facto, já residiu em Olinda, Brasil, país aonde se desloca com frequência e onde desenvolve, ao que julgamos saber, projectos editoriais. Estanciou em Berlim, onde escreveu, ao abrigo de uma bolsa de criação literária da Deutscher Akademischer Austausschdienst, o romance O Ano em que Zumbi Tomou o Rio (2002). Reside actualmente em Lisboa.

Perpassa pela sua obra, logo desde o primeiro romance, A Conjura (1989), e, em especial , em Nacão Crioula (1998) - onde se revela a “correspondência secreta” de Fradique Mendes e a surpreendente adaptação daquela personagem queirosiana ao mundo tropical – a afirmação dos valores da miscigenação, não apenas rácica mas, sobretudo, cultural, o que o leva a desenvolver um projecto literário onde já se apontaram indícios das teorias luso-tropicalistas de Gilberto Freyre ou, no mínimo, as marcas da crioulidade que Mário António Fernandes sustentou na sua produção ensaística.

Pesará nesta inclinação intelectual a origem do escritor, nascido em Angola mas filho de pai com raízes portuguesas e de mãe com ascendência brasileira. A própria repartição espacial da sua vida e as iniciativas que desenvolve no triângulo Angola-Portugal-Brasil, contribuem para a imagem de um escritor dividido pelos espaços da lusofonia, essa comunidade de falantes em que os Portugueses tendem a ver o que sobrou dos estilhaços do Império  e que Eduardo Lourenço já apresentou como uma miragem cultural ou a imagem actual do nosso mapa cor-de-rosa. É, de resto, esse território mítico desfeito pelo ultimato inglês de 1890 que, de certa forma, surge no seu último livro, As Mulheres de Meu Pai, uma viagem de Angola à contracosta, realizada desta feita pelo litoral africano, de Luanda à Ilha de Moçambique.

Em O Vendedor de Passados opera-se uma dessacralização da terra natal e da sua História, tocando-se  em complexos motivos como a invenção da memória ou o vazio dela na emergente nação angolense. O livro é marcado por uma epígrafe de Jorge Luís Borges e um narrador que nos atreveríamos a chamar borgiano, embora o modelo não se possa considerar original.

Assim, o nosso trabalho sobre a obra e o autor escolhidos, desenvolver-se-á segundo as seguintes linhas temáticas:

1. O mito da nação crioula.

2. Nação angolense e valores identitários.

3. O 27 de Maio de 1977.

4. Queirosianismo e ironia queirosiana.

5. Processos narrativos: as sombras de Jorge Luís Borges e Lygia Fagundes Teles.

--- Aqui fica a introdução, há mais 10 páginas.  Desculpem qualquer coisinha, ó leitores, que isto é trabalho de simples escolar. A nota até não foi má.

1 comentário:

Custódia C. disse...

Nada a desculpar! Vem mesmo a propósito.
Agora essa de simples escolar ... :)